MR-04: Encontro 2016

[tab: Dr. Adriano Holanda]
FENOMENOLOGIA DA CRISE E DO SOFRIMENTO

Dr. Adriano Furtado Holanda (PR) – CRP: 01/3795

Resumo:
Erving Goffman, ao falar dos sintomas mentais e da ordem pública, na coletânea Ritual de Interação. Ensaios sobre o Comportamento Face a Face, aponta que grande parte do que é considerado como “comportamento psicótico”, seria, em uma primeira instância, “(…) uma falha em seguir as regras estabelecidas para a conduta da interação face a face – quer dizer, as regras estabelecidas ou pelo menos aplicadas por algum grupo de avaliação, julgamento ou policiamento. O comportamento psicótico, em muitos exemplos, é aquilo que podemos chamar de impropriedade situacional”. Ademais, um comportamento tido como psicótico, pode, em contextos ou tempos distintos, ter avaliações distintas. A fúria de Ájax, no tema de Homero, se contextualizado no cenário de batalha, certamente não seria a mera apropriação da hybris. Quando se dá esta impropriedade situacional? No contexto da “crise” como objeto destacado ultimamente? (e em que consistiria a crise? Num evento particular ou num procedimento sistêmico?). A loucura sempre acompanhou a humanidade, e talvez seja tão antiga quanto esta. De uma forma ou de outra, podemos dizer que esta presença foi (ou é), ora mais, ora menos “integrada” ao seu contexto social e cultural. A loucura vem acompanhada de diversas representações, sendo as mais comuns, aquelas associadas a exclusão, estigma ou alienação, ou a medo e violência, ou ainda a um certo estranhamento e, ainda hoje, essas imagens se mostram sedimentadas no nosso imaginário. Porém, representações são construídas, tem um perfil de constituição antropológico – apontam para o “lugar” desse sujeito – bem como tem uma história. Mesmo assim, continuamos a repetir modelos dessas representações, mostrando que certas generalidades são passíveis de serem reconhecidas, em tempos diferentes e em pensamentos diferentes. Uma das coisas que estas repetidas representações apontam – mais do que afirmar uma objetividade nelas contida ou mesmo uma obviedade patente – é o que ali se encontra latente: no caso das já conhecidas representações de exclusão ou alheamento em relação à loucura, temos um esquecimento, e a sutileza de uma realidade igualmente contida na mesma experiência. A loucura nem sempre foi alienação, e a loucura não carrega consigo apenas o emblema da negatividade, simplesmente porque o que a loucura “esconde” ou o que esquecemos de perceber nela, é exatamente o seu mais caráter mais distintivo, o fato da loucura ser uma experiência humana. O objetivo deste trabalho é afirmar a necessidade de se falar da loucura; precisamos clarificar o campo do discurso, dado que “nomes” formais objetificam sentidos, excluem significados fundamentais e, portanto, não “dizem” do concreto, no caso, da experiência de um existente, e que são exatamente essas expressões objetificadas que se tornam representações. “Psicopatologia” não diz de uma experiência; “doença mental” não explicita seu sujeito; “sofrimento psíquico” não faz jus à integralidade de um vivido; mas o “louco” é, ex-siste, está em-situação. Só há loucura de um sujeito e a partir de um sujeito; e este sujeito não é aqui puro sujeito, mas sempre um sujeito em situação. A tese, pois, é que para enfrentarmos o estigma, a exclusão, o alheamento, é preciso naturalizarmos a loucura, torná-la comum, vê-la no cotidiano, no mundo, no outro ao qual nos identificamos – pois o louco só é excluído, só se torna invisível, quando não o reconhecemos como similar – e, ainda, em nós-mesmos. Precisamos “naturalizar” a ideia da loucura; e a ideia de naturalização da loucura é, antes de tudo, uma ação de enfrentamento do estigma e das representações tradicionais que geram discriminação. Nossa discussão busca tratar a questão da Loucura, a partir de uma intrincada teia de outros temas, tais como desvio, normalidade e normatividade, diversidade (alteridade, outridade, intersubjetividade) e similaridade (identificação), exotismo e estigma.

Palavras Chaves: Loucura. Saúde Mental. Crise

Adriano Furtado HolandaMini-Currículo:
Dr. Adriano Furtado Holanda (PR): Graduado em Psicologia (1987), com Mestrado em Psicologia Clínica pela Universidade de Brasília (1993) e Doutorado em Psicologia pela PUC-Campinas (2002). Professor Adjunto e Orientador de Mestrado da Universidade Federal do Paraná. Editor Chefe da revista "Phenomenological Studies- Revista da Abordagem Gestaltica" e "Interaçao em Psicologia" (UFPR), Membro Colaborador do Circulo Latino Americano de Fenomenologia e Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Psicologia Fenomenologica. Vice-Coordenador do Grupo de Trabalho "Psicologia & Fenomenologia" na ANPEPP. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Clínica e Epistemologia da Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Fenomenologia, Fenomenologia Husserliana, Psicoterapia, Abordagens Fenomenológicas e Existenciais, Psicologia da Religião, História da Psicologia e Pesquisa Fenomenológica, Psicologia Clínica e Psicoterapia, Processos de Saúde/Doença e Saúde Mental.

 [tab: Drª Celana Cardoso]
CRISE, RELAÇÃO CONJUGAL E MUDANÇA

Drª Celana Cardoso Andrade (GO) – CRP: 09/1121

Resumo:
A crise advém de uma a situação que incomoda a pessoa, seja por uma mudança súbita e/ou dolorosa ou pela permanência de algo que passa a incomodar sobremaneira. Corresponde a momentos da vida de uma pessoa em que há ruptura na sua homeostase psíquica ou biológica e, consequente, perda ou mudança dos elementos estabilizadores habituais. O como os componentes da crise são vividos, elaborados e utilizados é singular, no entanto, muitas vezes vem acrescido de alguma mudança. A evolução da crise pode ser benéfica – quando a pessoa cresce com a adversidade e cria novas formas de equilíbrio; ou maléfica – quando a pessoa perde a si mesma e, consequentemente, à capacidade de reagir, de ajustarse à situação. Ainda que a pessoa se torne mais vulnerável frente à crise, é esse desequilíbrio que pode devolvê-la ao seu desenvolvimento e à sua verdade. Um dos momentos delicados, e muitas vezes de crise, na vida do casal, foco dessa fala, é o nascimento de um filho. Não exatamente pelo nascimento do filho em si, que normalmente é desejado, mas pelas mudanças que acontecem na vida do casal, e, sobretudo, na vida da mulher. O discurso social descreve a união ideal na contemporaneidade como aquele em que há compartilhamento, ou seja, tanto a responsabilidade financeira quanto os cuidados da casa e a criação dos filhos são compartilhados por ambos os cônjuges. No entanto, estudos realizados têm apontado para o fato de que homens e mulheres ainda dividem as atividades de maneira tradicional. O cuidado da casa e dos filhos permanece como responsabilidade principal da mulher, ao passo que o provimento financeiro é visto ainda como responsabilidade primordial dos homens. Essa divisão tem provocado a saída de muitas mulheres do mercado de trabalho em tempos onde essa inserção da mulher no mundo laboral tem sido bastante incentivada e, mais do que isso, exigida. O objetivo dessa apresentação é mostrar como o casal tem vivenciado a crise conjugal e da mulher suscitada pela interrupção da atividade laboral feminina após o nascimento de um ou mais filhos. Os dados foram gerados pela pesquisa de doutorado da palestrante, cujo título foi Maternidade e trabalho feminino na perspectiva de mulheres e seus companheiros. No estudo as mulheres passaram por pressões internas e externas ao tentarem conciliar trabalho e maternidade, abandonaram os trabalhos remunerados e ficaram insatisfeitas com sua escolha. Será apresentado como a crise se instalou o a reorganização do campo após o desequilíbrio.

Palavras Chaves: Crise, relação conjugal, mudança

profcelanaMini-Currículo:
Drª Celana Cardoso Andrade (GO): Possui graduação em Bacharel, Licenciatura e Psicóloga pela Universidade Católica de Goiás (1989), graduação em Licenciatura em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de Goiás (1989), especialização em Gestalt-terapia pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa Em Gestalt Terapia de Goiânia – ITGT, mestrado em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Goiás (2007). Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília – UnB (2016). Professora assistente e supervisora de estágio no Curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás (UFG); professora titular, supervisora, orientadora e pesquisadora da área clínica no ITGT e psicoterapeuta na Alter – Consultórios de Psicologia Atendimentos individuais, casais, famílias e grupos psicoterapêuticos e de supervisão. Editora associada da Revista da Abordagem Gestálica, organizadora dos Encontros Goianos da Abordagem Gestáltica. Tem experiência na área Clínica e na Educação, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino Psicoterápicos, atuando principalmente nos seguintes temas: gestalt-terapia, processo psicoterapêutico (individual, casal, família e grupo), fenomenologia, método fenomenológico, existencialismo e existencialismo dialógicos. Pesquisadora integrante do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, projeto desenvolvido no CNPq na linha de pesquisa Fenomenologia e Subjetividade.

 [tab: Drª Maria Alice]
BUSCA DE SENTIDO DO SER OU PERDA DA IDENTIDADE? LIDANDO COM OS PADRÕES SOCIALMENTE DEFINIDOS
Drª. Maria Alice Q. de Brito – Lika (BA) – CRP: 03/0824

Resumo:
Para nós, gestalt-terapeutas, existência é contato. A experiência do existir nasce do encontro com o outro, da relação, e é nessa relação de campo organismo-meio que vamos nos construindo e nos significando, nos definindo enquanto ‘eu sou’, ‘eu sou alguém que’. Nesse modo de self funcionando como personalidade, à medida em que vamos descobrindo algo sobre nós mesmos e integrando ao já conhecido, vamos nos construindo enquanto identidade. Segundo Delacroix, a identidade pode ser definida como “a capacidade do indivíduo para experimentar-se, definir-se e posicionar-se frente ao outro e ao mundo” (2008, p.254). Podemos assim falar em duas esferas da existência, a experiência direta e as imagens representativas dessa experiência, o experiencial e o simbólico, a partir do qual vamos nos construindo enquanto subjetividade, e dando um sentido ao nosso existir.

E como fica a identidade nessa modernidade líquida, como coloca Bauman (2001), onde a ausência de referências estáveis, a efemeridade e descartabilidade das relações, a diluição das fronteiras conhecidas de espaço e tempo provocados pela virtualidade, nos tornam cada vez mais vulneráveis às pressões sociais, em uma tentativa de sermos aceitos, pertencentes? “Controlados, prisioneiros do relógio, vivemos como corpos-máquina, movimentos marcados por um ritmo imposto de fora” (Alvim, 2014, p.87); uma pressa-pressão que, aliada ao excesso de estímulos gerado pelo bombardeio de informações e imagens, nos leva a criar ajustamentos criativos de dessensibilização das necessidades naturais do nosso organismo. O que estamos buscando ao afastarmo-nos cada vez mais de nós mesmos, que sentido tem esse existir marcado por essa desconexão?

Existência implica em corporeidade, revelada pelo olhar, pela presença do outro e do em torno no corpo; a imagem corporal tornando-se a representação concreta da nossa identidade. E como fica essa identidade quando o corpo torna-se um objeto moldado por padrões externos que anulam a sua singularidade, um corpo negado e torturado pelos introjetos sociais? Introjetos sociais que levam a ajustamentos criativos dissociativos na construção de identidades fictícias, imagens irreais de si projetadas nas redes sociais, nos relacionamentos virtuais. Se existência é contato, quem está existindo?

Palavras chave: Identidade, ajustamentos criativos, pressão social.

Maria Alice Queiroz de BritoMini-Currículo:
Drª. Maria Alice Q. de Brito – Lika (BA): Psicóloga, Gestalt-terapeuta. Mestre em Psicologia Social (UFBA) Especialista em Psicologia Clínica (CFP). Professora e supervisora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Fundadora e co-diretora  do Instituto de Gestalt- terapia da Bahia. Membro do corpo docente de cursos de pós-graduação Lato Sensu e formações em Gestalt-terapia de Institutos do Brasil e da Espanha. Supervisiona psicoterapeutas nas áreas clínica, hospitalar e clínica ampliada na abordagem Gestáltica. Ministra cursos de Intervenções de Curta Duração na Abordagem Gestáltica, Processos Grupais, Além da fala: o uso de recursos na Gestalt-terapia, A Influência Relação de campo Organismo-meio intrauterino no Desenvolvimento  do Indivíduo, Jogo de Areia na Abordagem Gestáltica em vários estados do Brasil. Criadora do trabalho Reconfiguração do Campo Familiar. Autora de capítulos nos livros Catálogo de Abordagens Terapêuticas, Dicionário de Gestalt-terapia, A Clínica a Relação Psicoterapêutica e o Manejo em Gestalt-terapia, Tratado de Psicologia Transpessoal vol.I, Caderno de Metodologia da Dinâmica Energética do Psiquismo. Membro do Colégio Internacional de Terapeutas.